UNIVERSIDADE DE UBERABA - UNIUBE
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Laércio Tadeu Ferreira Silva
Turma 11
CINEMA E HISTÓRIA: O filme como documento histórico.
Neste artigo,
buscamos compreender a importância do cinema como recurso didático para o
planejamento de aulas de História. Como resultado da observação nos arquivos da
sétima arte, fica evidente a necessidade do desenvolvimento de pesquisas neste
campo, que abordem o filme como documento histórico, a ser utilizado no ensino
de História. Claro, buscaremos evitar quando possível os anacronismos e temos
consciência que por mais genial que possa ser construído um filme sobre uma
determinada temática histórica e por mais que este filme, venha à tecer
valiosíssimas contribuições para as mais diversas pesquisas, trata-se de uma
escala da realidade, não sua totalidade,
o que não é possível, mas o olhar de um historiador sobre vários
contextos e suas essências.
Desde os irmãos Lumieré, pioneiros da sétima arte, há uma profunda transformação do olhar sobre a natureza, o tempo e o espaço. A realidade percebida pela História, romanceada pela Literatura, investigada por tantos outros campos dos saberes, é capturada, editada, formatada, subjetivizada e produzida pelo cinema. O desenvolvimento atual da tecnologia vem impactando significativamente no aprendizado e entre tantos recursos disponíveis para a construção do conhecimento, o cinema apresenta-se como a interseção de um público que se comunica com o audiovisual e um conhecimento produzido historicamente.
Por muito
tempo, o cinema não foi aceito pela historiografia como documento histórico. O cinema era reduzido ao estado de trivializar
o passado, sob o enfoque de uma visão positivista e metódica. Segundo Silva,
Priscila (1) a importância do advento do cinema cria raízes, define
esteriótipos e fronteiras, embrica-se mesmo em nações e povos, como se dá na
sociedade norte-americana, por exemplo.
“... consideramos o real sempre mais
rico de possibilidades e por isso ao lançarmos nosso olhar para o cinema e para
sua influência na sociedade norte- americana, não o enxergaremos como reflexo
fechado e cristalino desta. Assim, o cinema está para a sociedade americana tal
qual a religião estava para a sociedade europeia do século anterior, ele
representa um modelador do inconsciente coletivo através de seus heróis, de
suas sagas, de seu glamour, ele criou uma simbologia e uma forma de se
relacionar com o público que conduz o receptor a internalização desse
significado.”
SILVA, PATRÍCIA / CINEMA E HISTÓRIA:
O imaginário norte americano através de Hollywood.
Segundo SILVA,
isso se transformaria à partir dos anos 1970, com a proposta de novos métodos
da História e a reformulação de muitos conceitos, propostos pela Historiografia
dos Annales.
A
utilização do cinema em sala de aula como documento histórico é uma escolha
importante do professor. O filme faz conexão com uma realidade ampliada,
podendo ser analisado sob diferentes prismas, como o contexto que ambienta ou o
contexto em que foi produzido. Podemos buscar nele elementos que se relacionam
com múltiplas realidades, ideologias sedutoras e poderosas que são reproduzidas
por nós, homens, agentes históricos que
somos, representando também, nossas paixões e nossos diferentes olhares sobre
vários temas.
Agora, é necessário cuidado com a
escolha do filme para o planejamento ideal de uma aula. Vários detalhes, podem
levar o professor à cair na armadilha do anacronismo. Pensando nisso, propomos
a elaboração de uma pesquisa, que elabore um fichamento temático, que auxilie a
escolha do educador. Trata-se de levantamento analítico sobre diversos filmes
correlacionando-os com diversos contextos temáticos da História. Sem a
necessidade de estabelecer uma ordem cronológica, essa pesquisa tentará
apresentar ao professor de História, um manual sobre a história da sétima arte.
Cada filme ou
documentário escolhido pelo professor pode ampliar o universo da pesquisa e da
construção do conhecimento de seus educandos. Existem vários filmes e
documentários que podem auxiliá-lo, porém muitas vezes, são apresentados sem
uma contextualização histórica, ou seja, ficam soltos no vento. Contextos
variados dentro de temáticas apresentadas, por exemplo, como no caso do período
da Antiguidade, podemos trabalhar com várias culturas, várias civilizações,
como os astecas, os maias, os incas, as civilizações do crescente fértil, na
mesopotâmia e também filmes ou documentários que tratem da África. Existem filmes que trazem uma gama de
pesquisas sobre as formas culturais, sociais, políticas, econômicas, religiosas
de várias sociedades, como por exemplo: Fenícios, Persas, Cartagineses,
Egípcios, Gregos, Macedônicos, Romanos, Germanos. Podemos ter contatos com
pesquisas que detalhem peculiaridades de diferentes cotidianos, tecnologias
utilizadas nas construções de cidades, pontes, aquedutos ou mesmo para a guerra
ou a agricultura. Podemos ainda utilizar filmes que explorem as relações
interpessoais, as relações de dominação e liberdade, poder e leis, guerra e
paz.
Como ponto de
partida , iremos analisar um documentário produzido pela Discovery Channel
intitulado: “O Homem pré-histórico vivendo entre as feras, caçar ou ser
caçado”, que remonta o aparecimento do hominídeo, ou melhor, Homo Eraster, a
mais ou menos 2,5milhões de anos atrás. Voltados à caça, estariam no inicio do
processo evolutivo.
Observações
sobre a postura e dos ancestrais mais antigos, o tamanho do cérebro e a
observação da mandíbula, são meios de investigação evolutiva, tomando formas
diferentes ao longo do tempo. As armas
dos hominídeos quando começaram a serem feitas, eram simplesmente estacas de
pedra lascada, o que acabou por se transformar com o tempo e necessidade. Há
1,7 milhões de anos, um novo descendente do Homo Ergaster surgiu com o nome de
Homo Erectus. O surgimento do fogo foi um grande marco na história e o Homo
Erectus já sabia dominá-lo. Esta espécie já dominava armas maiores, mas ainda
de pedra. Sua postura era menos curvada, mas ainda se comunicava por gestos. O
aparecimento do “Homem de Neanderthal” marca um novo período na História. Estas
espécies moravam em cavernas em função do frio do período glacial, caçavam
juntos, dividiam os trabalhos e vivendo as primeiras noções de comunidade como
elo familiar. Até agora, estes homens eram considerados os mais espertos da
nossa espécie. O Homem de Neanderthal possuía a noção de perda de uma vida, e
também de funeral, pois eles enterravam seus mortos. As pinturas rupestres
continuam a ser uma incógnita para os cientistas. Os desenhos encontrados nas
cavernas de Chavet na França possuem inúmeras leituras, mas ainda não podem ser
consideradas formas de escritas, e sim mecanismos de memórias ou de
comunicação, que de fato determinam uma nova representatividade aos elementos
da natureza e sua importância para os homens da época.
Da mesma
forma, existem outros tantos nesta perspectiva, para compreendemos que a utilização do cinema
em sala de aula, é uma experiência, muito rica, pois trabalhar um filme como
documento, é fazer uma profunda análise sobre seu conjunto, corelacionando com
o contexto ambientado, o contexto produzido, as sutilezas subjetivas e
concretas que são apresentadas, as ideologias de grupos e suas paixões, o que retrata a literatura e o que retrata a
História, especificamente. Assim, utilizando
o filme como documento é algo fundamental para o planejamento dos temas e
contextos à serem estudados. Claro, lembrando que a utilização da imagem,
estereotipa a realidade, como diz Duby (2), tendo em seu reducionismo uma
construção de um imaginário sobre um contexto específico, um reflexo no espelho,
que não é concreto e sim subjetivo, mas de grande importância.
Assim,
a composição técnica e analítica de filmes como documentos histórico, é uma
proposta paradidática, que busca ser um referencial pedagógico sobre o uso do
cinema ambientado historicamente em sala de aula, apresentando filmes e
documentários selecionados, que relatem diferentes contextos históricos. Como
marcos temporal, foram eleitos os períodos da Antiguidade, do Medievo, do
Contemporâneo e do Brasil. Os filmes serão expostos sob um prisma histórico,
sem uma relação de obrigação cronológica, mas como referencial temático para o
educador.
Essa
simbiose da realidade com a arte do cinema é um campo de pesquisa riquíssimo, e
há muito trabalho a ser feito, para que possamos compor um mural
cinematográfico da História, que seja referência para a construção do
conhecimento histórico em sala de aula. Esperamos contribuir com essa pesquisa,
para a adaptação dos temas estudados aos recursos tecnológicos existentes, para
difundir o conhecimento de uma maneira agradável e atual, e que além de
auxiliar o professor, como um vasto campo de pesquisa, que desperte também o
interesse, e por que não, a paixão pela História para alunos do ensino básico.
1 SILVA, Priscila Aquino / CINEMA
E HISTÓRIA: o imaginário norte americano através de Hollywood
2 DUBY, Georges, História social
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ano 02, Abr-Ago 2004.