Resumo:
Através de uma análise no filme Tempos Modernos, considerando seu carater de documento Histórico, estabelecemos a importância da relação do cinema com a história, analisando elementos do filme que dialogam com a realidade, como no caso será abordado a necessidade de Carlitos, o virutoso vagabundo, procurar seu sustento na esteira de uma fábrica, fruto do processo fordista de racionalização de produção, de uma conjuntura entre guerras, agravada pela quebra da bolsa em 29 e o crescimento da fome e da exclusão, antes da 2ª guerra mundial.
UNIVERSIDADE DE
UBERABA – UNIUBE
CURSO DE HISTÓRIA –
POLO BHTE – Floresta
Laércio Tadeu
Ferreira Silva – TURMA 11
Cine
História: De vagabundo à operário.
Belo Horizonte, 12 de
Janeiro de 2015.
UNIVERSIDADE DE
UBERABA – UNIUBE
CURSO DE HISTÓRIA –
POLO BHTE – Floresta
Laércio Tadeu
Ferreira Silva – TURMA 11
Cine
História: Carlitos, de vagabundo à operário.
Esta pesquisa
busca compreender à expansão do fordismo como resposta à crise de 29 e seu
impacto social, através da análise do filme Tempos Modernos
Trabalho de
pesquisa apresentado ao PIAC\Uniube, endereçada ao Departamento de História, do
Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Uberaba.
Belo Horizonte, 12 de
Janeiro de 2015.
SÚMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
METODOLOGIA
4
DESENVOLVIMENTO
5
CONCLUSÃO 8
RESUMO
8
REFERÊNCIAS
9
3
INTRODUÇÃO
O
presente trabalho se propõe a ressaltar e defender o uso do cinema como
documento histórico, tornando-se fonte de pesquisa e ensino de História.
Buscando uma referêncial teórica, amparo-me nos estudos propostos no movimento
dos Annales, principalmente pelos idos dos anos 70. Antes dos Annales, a visão
sobre o cinema era reducionista, pois entendia que o filme era uma trivial
forma de entretenimento. Claro que essa visão, há muito caiu por terra, pois o
historiador é convidado a ampliar seu olhar, num processo em que ele é
instigado a caçar informações para seu objeto de pesquisa, através de diversos
meios de produção humana em dada época.
Em
meio a esse leque de possibilidades de buscar fontes históricas, cria-se a relação
entre História e cinema. Essa relação tratará o filme como documento, podendo
este documento estabelecer paralelos que nos elucidem sob uma dada sociedade em
determinado tempo. Assim propomos como modelo de pesquisa uma determinada obra
de arte do cinema, com uma análise histórica. Assim, a presente abordagem
permitirá uma compreensão da valiosa obra Tempos Modernos de Charles Chaplin,
produzida no contexto que cerca o ano de 1936, entre guerras, onde se
caracteriza pela crítica à linha de produção Fordista, como a transformação
norte-americana após o crash da bolsa de 29, levou o poético vagabundo a
esteira.
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METODOLOGIA
A relação
entre Cinema e História é enriquecedora para o ensino. Esse universo permite ao
aluno a realização de várias pesquisas, com temas diversificados, e essa
proposta deve ser estimulada pelo educador de História, como recurso didático
de seu planejamento. Para mostrar como essa relação estimula a pesquisa, proponho
uma análise histórica sobre o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, como
uma crítica social, que leva para a esteira fordista o poético vagabundo,
buscando sobreviver aos tempos de crise, de crash da bolsa, de desemprego e de
fome, caracterizando bem o tempo de sua produção, o ano de 1936, como o período
de consolidação do capitalismo e sua relação de exploração da classe operária.
Para inicio da
análise fez-se necessário a utilização do recurso audiovisual para a compreensão
da ideologia do filme. Após degustá-lo, buscarei embasamento teórico amparado
em uma bibliografia composta por diversos gêneros que abordem a História, o
Cinema e a conjuntura do período entre guerras. Nessa análise buscarei
elementos que elucidem o que foi o Fordismo nos anos trinta, e sua importância
no desenvolvimento do capitalismo norte-americano.
Por fim,
procuro estimular e incentivar professores e alunos a trabalharem com filmes
como documentos históricos, determinando acertos e erros de nossa leitura sobre
a obra escolhida, e também, elegendo outras obras à análise, pois essa pesquisa
não se considera conclusiva, pois entende que é apenas uma contribuição para a
pesquisa histórica no universo da sétima arte, seara farta para os interessados.
O projeto só se completa ao afirmar o cinema é fundamental como fonte para o
ensino e pesquisa de História, sendo trabalhado sob uma ótica crítica capaz de
entender seu meio de produção. Utilização de conceito de indústria, à partir de
Souza (2005):
No dia a dia da
economia industrial, a palavra indústria está caracterizada por diversos
significados, desde uma empresa de pequeno porte, até uma fábrica de qualquer
tamanho de um parque industrial, que
trabalhe com atividade de transformação que usem maquinarias que tenha como
objetivo criar um terceiro produto, [ ...] O conceito real de indústria passa
pel tipo de mercado, como por exemplo, a competição perfeita que contempla um
grande número de vendedores/produtores, com produto homogêneo, livre entrada e saída,
e conhecimento pleno de tudo sobre a mercadoria, isto significa dizer, preço,
qualidade, distância, moda,etc.
Também se faz
necessário a utilização do conceito de cinema que se dá a partir do dicionário
de Kinghost (2006):
s.m. (forma reduzida de
cinematógrafo)/ Arte de compor e realizar filmes para serem projetados. / Sala
de espetáculos onde se veem projeções cinematográficas. / P.ext. A Própria
projeção cinematográfica. – O cinema foi criado pelos irmãos Lumière em 1895;
tornou-se sonoro em 1927, depois falado. Após múltiplas tentativas,
beneficiou-se com a cor.
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DESENVOLVIMENTO
Há algum tempo, especificamente
em 1929, Marc Bloch e Lucien Febvre, fundadores dos Annales, impeliram os
historiadores a saírem de seus gabinetes para “farejar a carne humana”, em
qualquer lugar onde pudesse ser encontrada, através de quaisquer meios. A
metáfora acima serve para representar a inovação trazida pelo movimento dos
Annales, incorporando como objetos e sujeitos do historiador não apenas os
grandes fatos e personagens políticos, mas também os costumes e as mentalidades
de cada período.
À partir de
então, tanto a noção de documento quanto a de texto ampliaram-se. Os diversos
vestígios do passado tornam-se matérias para o historiador. Por conseguinte,
novos textos (os documentos oficiais perdem seu exclusivismo), tais como a
pintura, a fotografia e o cinema foram incluídos no repertório de fontes de
pesquisas, tendo suas obras valores como documento histórico.
É nesse
contexto de assimilação de novos objetos e de novos métodos, que destacamos a
figura der Marc Ferro, pioneiro na incorporação do cinema como fonte para a
compreensão das mentalidades dos sujeitos da História. Segundo Ferro, é preciso
“analisar no filme, tanto a narrativa quanto o cenário, a escritura, as
relações do filme com aquilo que não é filme: o autor, a produção, o público, a
crítica, o regime de governo. Só assim se pode chegar a compreensão não apenas
da obra, mas também da realidade que ela representa”. (pg 87, 1992).
Enfocando,
portanto, o cinema, e , dentro do latíssimo âmbito cinematográfico, o filme “Tempos
Modernos” (1936), de Charles Chaplin, tentaremos estabelecer as conexões dessa
relação entre Cinema e História, quais podem ser percebidas em paralelo com as
sociedades norte-americanas antes e depois da crise de 29, que excluíam o
personagem de Chaplin, quando fazia o Vagabundo ele é socialmente incorporado como
operário, porém continua numa situação de exploração e de privações.
O modelo
fordista , é utilizado para caracterizar os sistemas de produção e gestão
inaugurados por Henry Ford, em sua fábrica, a Ford Motor Co., em 1913. O
processo de produção fordista é fundamentado na linha de montagem acoplada à
esteira rolante, que evita o deslocamento dos trabalhadores e mantém um fluxo
contínuo e progressivo das peças e partes, permitindo a reprodução dos tempos
mortos. É, portanto, uma forma de racionalização da produção, característica capitalista,
tendo como base inovações técnicas e organizacionais que se articulam objetivando
produção e consumo em demasia.
Segundo René Rémond,
“O automóvel foi, sem dúvida, o ícone mais expressivo dessa era de tecnologia e
facilidades. Para saciar a sede de milhões de consumidores, as linhas de
montagem da Ford triplicaram a frota de automóveis na década de vinte.” (p.16,
1996)
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A economia
americana adquiriu uma configuração espacial nesses anos pós-primeira guerra
mundial e, de certa forma, modelou todo o desenvolvimento posterior das chamadas
sociedades capitalistas, devido o aumento dos salários reais resultante dos
ganhos de produtividade ou deliberadamente elevados pelos empresários para
dinamizar o mercadodo, como assim fez Henry Ford.
O filme Tempos
Modernos expressa uma das maiores críticas da História do cinema, tendo como
tema central a sociedade industrial capitalista, com foco na reprimida classe
trabalhadora.
O fordismo de
Tempos Modernos é apresentado como inovação técnica e organizacional da
produção e do processo de trabalho, baseando-se no trabalho fragmentado e
simplificado, com ciclos operacionais curtos, requisitando pouco tempo para
formação e treinamento dos trabalhadores. O grande Carlitos, (Clássico
personagem de Chaplin) atua em cenas realizadas supostamente em uma fábrica. A
fábrica representa a nova lógica social, a produção em série logo inauguraria a
sociedade de consumo, das massas. O tempo é orquestrado pelas maquinas, pelo ritmo
das esteiras e das engrenagens. Chaplin impõe duras críticas as atividades
fabris, repetitivas e monótonas, que, como consequência, faz com que o
trabalhador tenha uma qualificação especializada, processada, onde se aliena e
perde a idéia de todo, até que, finalmente, é absorvido pela máquina/sistema.
O trabalho
abstrato, sem conteúdo, é o objeto de repúdio do personagem Carlitos, que se
insurge, de forma inconsciente, através de um surto (fatalmente ocasionado pela
opressão vivida no labor diário), contra a modernidade capitalista. Se, primeiro,
a transgressão aparece como surto nervoso, no decorrer do filme ela vem à tona
nas atitudes desastradas que provocam risos. É através de sua comicidade
trágica, que Chaplin demonstra sua resistência contra a lógica opressora do
Capital.
Após o crack
da Bolsa de Nova York, em 1929, o mundo jamais seria o mesmo, não restando
alternativa para os americano a não ser compreender uma nova redefinição de
rumos sobre o capitalismo liberal. Essa nova direção marcou a fase
intervencionista do estado, que aproveitou o exercito de famintos advindos da
crise como mão de obra de seu polo industrial.
De acordo com
Rémond, (1996), “Em meio ao caos que levou de roldão todas as ilusões e
esperanças de uma prosperidade infinita, a indústria cinematográfica continuava
a prosperar, exatamente por se tratar de uma das raras atividades que poderia
nutrir-se da própria crise econômica”. Adaptando-se aos novos tempos, suas
mensagens mudaram de tom. Em tempos difíceis era oportuno reavivar valores
consagrados como temperança, equilíbrio, bom senso, espírito democrático.
Chaplin assim o fez com Tempos Modernos. A realização do filme, dialoga com a
História, sendo valioso para a compreensão do período conhecido como “A grande
depressão”.
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Como desfecho,
torna-se importante mais uma vez frisar, retomando a idéia de Marc Ferro, em
similitude com a concepção de Cristiane nova, que o cinema é um testemunho da
sociedade que o produziu e, portanto, uma fonte documental para a ciência
histórica por excelência. Nenhuma produção cinematográfica está livre dos
condicionamentos sociais de sua época.
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Conclusão
No filme
Tempos Modernos, Chaplin faz uma crítica as transformações sociais e culturais
advindas da segunda revolução industrial e o modo de produção fabril nas
primeiras décadas do séc. XX, apresentando as falhas de um novo sistema
capitalista, baseado na lógica de produção fordista, apresenta falhas graves,
pois entendem que o operário é a engrenagem humana do sistema, e que caso dê
defeito, será descartado e trocado, em vista que a produção é de massa, mas nem
todos conseguem consumir, lógica do compromisso fordista, como diria David
Harvey, com os países capitalistas.
Tempos
Modernos herda a tradição crítica da modernidade fordista-taylorista, de A Nous
La Lierté, de René Clair, de 1931. Na década de 1930, década da Grande depressão
e das inovações técnicas profundas na produção e no processo do trabalho, o
avanço do fordismo, objeto de crítica de Clair de Chaplin, representava o
avanço de uma modernidade caótica, que teve seu papel nas contradições sociais,
da luta de classes e da geopolítica imperialista, o que veríamos traduzida na
II guerra mundial. Chaplin traduziu em seus filmes a critica da racionalização
capitalista, do qual o homem é moldado pela produção fabril, em que a inserção
da linha de montagem representa o espaço da perda, da individualização, da
automação.
Por fim,
Carlitos tenta no final do filme, trabalhando como garçom, mais uma vez se
integrar à sua sociedade, mas ele diferente da órfã, não se adapta aquela vida
moderna. Coincidentemente, ou não, este seria o último filme que Chaplin
utilizaria o seu personagem clássico, Carlitos, o que reforça que na
modernidade cada vez menos há lugar para a poesia do virtuoso Vagabundo.
RESUMO
Tempos Modernos, é um exemplo
claro de como o cinema é objeto de reflexões e críticas sociais, das quais, de
formar objetiva ou subjetiva, fornece os elementos historiográficos que disponibilizam
o contexto para análise da intencionalidade da obra, em que as metáforas
sociais são simbolizadas na ficção como elementos provindos da realidade.
Não só em Tempos Modernos, mas no
cinema como um todo, pode-se definir uma relação com a História, pois todo
filme traz em si, uma mensagem, inserida em um determinado contexto, com uma
intencionalidade, o que demanda produção material, das quais são produzidas sob
as influências de um determinado tempo e de um determinado espaço.
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Referências:
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