Postagens populares

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

ARTIGO SOBRE CINEMA E HISTÓRIA

UNIVERSIDADE DE UBERABA - UNIUBE
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Laércio Tadeu Ferreira Silva
Turma 11

CINEMA E HISTÓRIA: O filme como documento histórico.

Neste artigo, buscamos compreender a importância do cinema como recurso didático para o planejamento de aulas de História. Como resultado da observação nos arquivos da sétima arte, fica evidente a necessidade do desenvolvimento de pesquisas neste campo, que abordem o filme como documento histórico, a ser utilizado no ensino de História. Claro, buscaremos evitar quando possível os anacronismos e temos consciência que por mais genial que possa ser construído um filme sobre uma determinada temática histórica e por mais que este filme, venha à tecer valiosíssimas contribuições para as mais diversas pesquisas, trata-se de uma escala da realidade, não sua totalidade,  o que não é possível, mas o olhar de um historiador sobre vários contextos e suas essências.

                  Desde os irmãos Lumieré, pioneiros da sétima arte, há uma profunda transformação do olhar sobre a natureza, o tempo e o espaço. A realidade percebida pela História, romanceada pela Literatura, investigada por tantos outros campos dos saberes, é capturada, editada, formatada, subjetivizada e produzida pelo cinema. O desenvolvimento atual da tecnologia vem impactando significativamente no aprendizado e entre tantos recursos disponíveis para a construção do conhecimento, o cinema apresenta-se como a interseção de um público que se comunica com o audiovisual e um conhecimento produzido historicamente.
Por muito tempo, o cinema não foi aceito pela historiografia como documento histórico.  O cinema era reduzido ao estado de trivializar o passado, sob o enfoque de uma visão positivista e metódica. Segundo Silva, Priscila (1) a importância do advento do cinema cria raízes, define esteriótipos e fronteiras, embrica-se mesmo em nações e povos, como se dá na sociedade norte-americana, por exemplo.
“... consideramos o real sempre mais rico de possibilidades e por isso ao lançarmos nosso olhar para o cinema e para sua influência na sociedade norte- americana, não o enxergaremos como reflexo fechado e cristalino desta. Assim, o cinema está para a sociedade americana tal qual a religião estava para a sociedade europeia do século anterior, ele representa um modelador do inconsciente coletivo através de seus heróis, de suas sagas, de seu glamour, ele criou uma simbologia e uma forma de se relacionar com o público que conduz o receptor a internalização desse significado.”
SILVA, PATRÍCIA / CINEMA E HISTÓRIA: O imaginário norte americano através de Hollywood.
Segundo SILVA, isso se transformaria à partir dos anos 1970, com a proposta de novos métodos da História e a reformulação de muitos conceitos, propostos pela Historiografia dos Annales.
                A utilização do cinema em sala de aula como documento histórico é uma escolha importante do professor. O filme faz conexão com uma realidade ampliada, podendo ser analisado sob diferentes prismas, como o contexto que ambienta ou o contexto em que foi produzido. Podemos buscar nele elementos que se relacionam com múltiplas realidades, ideologias sedutoras e poderosas que são reproduzidas por nós,  homens, agentes históricos que somos, representando também, nossas paixões e nossos diferentes olhares sobre vários temas.
            Agora, é necessário cuidado com a escolha do filme para o planejamento ideal de uma aula. Vários detalhes, podem levar o professor à cair na armadilha do anacronismo. Pensando nisso, propomos a elaboração de uma pesquisa, que elabore um fichamento temático, que auxilie a escolha do educador. Trata-se de levantamento analítico sobre diversos filmes correlacionando-os com diversos contextos temáticos da História. Sem a necessidade de estabelecer uma ordem cronológica, essa pesquisa tentará apresentar ao professor de História, um manual sobre a história da sétima arte.
Cada filme ou documentário escolhido pelo professor pode ampliar o universo da pesquisa e da construção do conhecimento de seus educandos. Existem vários filmes e documentários que podem auxiliá-lo, porém muitas vezes, são apresentados sem uma contextualização histórica, ou seja, ficam soltos no vento. Contextos variados dentro de temáticas apresentadas, por exemplo, como no caso do período da Antiguidade, podemos trabalhar com várias culturas, várias civilizações, como os astecas, os maias, os incas, as civilizações do crescente fértil, na mesopotâmia e também filmes ou documentários que tratem da África.  Existem filmes que trazem uma gama de pesquisas sobre as formas culturais, sociais, políticas, econômicas, religiosas de várias sociedades, como por exemplo: Fenícios, Persas, Cartagineses, Egípcios, Gregos, Macedônicos, Romanos, Germanos. Podemos ter contatos com pesquisas que detalhem peculiaridades de diferentes cotidianos, tecnologias utilizadas nas construções de cidades, pontes, aquedutos ou mesmo para a guerra ou a agricultura. Podemos ainda utilizar filmes que explorem as relações interpessoais, as relações de dominação e liberdade, poder e leis, guerra e paz.
Como ponto de partida , iremos analisar um  documentário produzido pela Discovery Channel intitulado: “O Homem pré-histórico vivendo entre as feras, caçar ou ser caçado”, que remonta o aparecimento do hominídeo, ou melhor, Homo Eraster, a mais ou menos 2,5milhões de anos atrás. Voltados à caça, estariam no inicio do processo evolutivo.
Observações sobre a postura e dos ancestrais mais antigos, o tamanho do cérebro e a observação da mandíbula, são meios de investigação evolutiva, tomando formas diferentes ao longo do tempo.  As armas dos hominídeos quando começaram a serem feitas, eram simplesmente estacas de pedra lascada, o que acabou por se transformar com o tempo e necessidade. Há 1,7 milhões de anos, um novo descendente do Homo Ergaster surgiu com o nome de Homo Erectus. O surgimento do fogo foi um grande marco na história e o Homo Erectus já sabia dominá-lo. Esta espécie já dominava armas maiores, mas ainda de pedra. Sua postura era menos curvada, mas ainda se comunicava por gestos. O aparecimento do “Homem de Neanderthal” marca um novo período na História. Estas espécies moravam em cavernas em função do frio do período glacial, caçavam juntos, dividiam os trabalhos e vivendo as primeiras noções de comunidade como elo familiar. Até agora, estes homens eram considerados os mais espertos da nossa espécie. O Homem de Neanderthal possuía a noção de perda de uma vida, e também de funeral, pois eles enterravam seus mortos. As pinturas rupestres continuam a ser uma incógnita para os cientistas. Os desenhos encontrados nas cavernas de Chavet na França possuem inúmeras leituras, mas ainda não podem ser consideradas formas de escritas, e sim mecanismos de memórias ou de comunicação, que de fato determinam uma nova representatividade aos elementos da natureza e sua importância para os homens da época.
Da mesma forma, existem outros tantos nesta perspectiva,  para compreendemos que a utilização do cinema em sala de aula, é uma experiência, muito rica, pois trabalhar um filme como documento, é fazer uma profunda análise sobre seu conjunto, corelacionando com o contexto ambientado, o contexto produzido, as sutilezas subjetivas e concretas que são apresentadas, as ideologias de grupos e suas paixões,  o que retrata a literatura e o que retrata a História, especificamente.  Assim, utilizando o filme como documento é algo fundamental para o planejamento dos temas e contextos à serem estudados. Claro, lembrando que a utilização da imagem, estereotipa a realidade, como diz Duby (2), tendo em seu reducionismo uma construção de um imaginário sobre um contexto específico, um reflexo no espelho, que não é concreto e sim subjetivo, mas de grande importância.
                Assim, a composição técnica e analítica de filmes como documentos histórico, é uma proposta paradidática, que busca ser um referencial pedagógico sobre o uso do cinema ambientado historicamente em sala de aula, apresentando filmes e documentários selecionados, que relatem diferentes contextos históricos. Como marcos temporal, foram eleitos os períodos da Antiguidade, do Medievo, do Contemporâneo e do Brasil. Os filmes serão expostos sob um prisma histórico, sem uma relação de obrigação cronológica, mas como referencial temático para o educador.
                Essa simbiose da realidade com a arte do cinema é um campo de pesquisa riquíssimo, e há muito trabalho a ser feito, para que possamos compor um mural cinematográfico da História, que seja referência para a construção do conhecimento histórico em sala de aula. Esperamos contribuir com essa pesquisa, para a adaptação dos temas estudados aos recursos tecnológicos existentes, para difundir o conhecimento de uma maneira agradável e atual, e que além de auxiliar o professor, como um vasto campo de pesquisa, que desperte também o interesse, e por que não, a paixão pela História para alunos do ensino básico.





1 SILVA, Priscila Aquino / CINEMA E HISTÓRIA: o imaginário norte americano através de Hollywood
2 DUBY, Georges, História social e ideologia das sociedades, in História: Novos Problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1995.

Bibliografia:
FERRO, M. A história vigiada. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
GRAMSCI, Antonio, Americanismo e Fordismo in Maquiavel, a Política e o Moderno
Estado, Civilização Brasileira.
PAMPLONA, Marco Antônio. Revendo o sonho Americano, 1890-1972. São Paulo,
Atual,1996.
ROCHA,Glauber. O século do cinema, Rio de Janeiro: Editorial Alhambra/
Embrafilmes, 1983.
FURHAMMAR, Leif e ISAKSSON, Folke. Cinema e Política. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1976.
SÁ, Irene Tavares. Cinema em debate 100 filmes em carta. Rio de Janeiro: Livraria
Agir Editora, 1974.
KAFAN, Norman, The War Films, Nova Iorque: Pyramid publication.
BERNARDET, Jean- Claude, O que é cinema, São Paulo: Editora brasiliense,1981.
HARVEY, David, Condição pós moderna, São Paulo: Edições Loyola,1992.
DIVINE, Robert A, América Passado e Presente, Rio de Janeiro: Editora Nórdica,
1992.
RAGO, Luzia M.,e MOREIRA, F P Eduardo, O que é Taylorismo, São Paulo, Editora
Brasiliense, 1984.
JOLLY, Martine. “A análise da imagem: desafios e métodos”. In. Introdução à análise
da Imagem.
KEHL, Maria Rita. “Cinema e Imaginário.”In. XAVIER, Ismael. (org) O Cinema no
século. Rio de Janeiro, Imago. 1996.
KELTHER, Douglas. “Lendo imagens Criticamente: em direção a uma pedagogia pós
moderna”. In. Alienígena na sala de aula – uma introdução aos estudos culturais em
educação SILVA, Tomaz Tadeu. (org) Autêntica. Belo Horizonte. 1999.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929- 1989. A Revolução Francesa da
Historiografia. Editora Unesp,São Paulo. 1997.
SILVA, Priscila Aquino / CINEMA E HISTÓRIA: o imaginário norte americano através de Hollywood. Revista Cantareira – criada e mantida por alunos da área de História da UFF. 5ª edição, vol. 01, ano 02, Abr-Ago 2004.